Chapa (Thiago Ricarte, FAAP, 2009)

Chapa é um curta-metragem que conta a história de Antônio, um trabalhador informal de beira de estrada, que quebra a rotina de serviço para esperar a visita da filha.

*Por Danielly Ferreira

1. Pelas buscas que fizemos na internet foram pouquíssimos curtas universitários do gênero road movie que encontramos. Qual foi a motivação pra realizar um curta desse gênero?

Nos road movies acompanhamos personagens em que a motivação se resume à locomoção e, assim, no decorrer do tempo o filme, o espaço e cenário mudam. Chapa é um road movie às avessas, em que ficamos com um personagem em um ponto da estrada onde tudo passa e ele fica. Os primeiros rascunhos para se filmar nessa atmosfera vieram de viagens diárias que fazia de Atibaia a São Paulo por conta da faculdade, quando ainda não morava na metrópole. E mais do que o trajeto da Fernão Dias, com suas passarelas de cimento gasto e postos de gasolina abandonados, foram esses trabalhadores que via na estrada diariamente, os chapas, que me puseram a escrever essa ficção. Queria jogar para o cinema uma história que ali poderia acontecer.

2. Os “Chapas” são realmente trabalhadores informais de beira de estrada? Comente a preparação do elenco. Qual foi o processo de pesquisa para construir aquele ambiente?

Quando me refiro aos chapas como trabalhadores informais, é porque é um ofício em que não há registro, apesar de atualmente muitos terem cartões de contato, e-mails de agendamento de trabalho, etc, da mesma forma que muitos caminhoneiros que vêm de Minas para São Paulo já têm seus “chapas” favoritos. Visitei alguns chapas durante uns quatro meses antes da elaboração final do roteiro, e alguns deles se recusavam a conversar com algum tipo de receio, outros topavam a conversa, e outros se permitiam serem fotografados e gravados. Hoje é comum inúmeras reportagens sobre chapas na tv, mas há sempre aqueles receosos com a profissão diante da mídia. O elenco foi uma mescla de atores profissionais e não atores, amigos, vizinhos, etc; devido ao curto tempo que tínhamos para execução das filmagens, os ensaios foram rápidos e, em cima da linha do roteiro, demos espaço para improvisos em busca de uma naturalidade entre um elenco que estava se conhecendo por conta do filme. Sobre a construção do ambiente, desenvolvi o roteiro conforme minhas conversas com os chapas e fotos que tirei de inúmeros pontos da Fernão Dias e outras rodovias. Quando me deparei com aquele espaço incrível sentido Bragança paulista em que uma passarela dialogava espacialmente com um ponto de ônibus há uns 40 metros dali, não tive dúvidas que havia encontrado a locação, e também cenas para o filme, como a sequência final da Paulinha na passarela e o longo traveling com Reginaldo, o garotinho que vende cocadas.
3. Imagino que ter gravado em uma estrada não tenha sido nada fácil. Quais foram os maiores desafios para a realização do curta?
O frio intenso pela manhã e o calor pesado na parte da tarde.
4. Chapa chegou a circular em vários festivais inclusive internacionais como Cannes e Cartagena além dos prêmios e menções nos festivais nacionais. Na sua opinião o que que com que o curta chamasse tanto a atenção dos festivais?
Talvez a peculiaridade do trabalho dos chapas em uma situação universal de saudade, espera, família, solidão… Não sei, talvez tenha sido isso.

*Danielly Ferreira é graduanda do curso de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da seção Curtas na RUA

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Este post tem um comentário

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    Marcel Filho

    caramba, até achei que essa profissão “chapa” havia deixado de existir, mas ha pouco tempo vi na rodovia anchieta um cara com uma plaquinha “chapa e guia”. interessante seu artigo, realmente não é facil este tipo de serviço, mas ainda tem muitos se arriscando pelo pao de cada dia dessa forma.

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