CRÍTICA | Dungeon Meshi, Episódios 1-24 (2024), Yoshihiro Miyajima

Por Miguel Carreto

Redação RUA

Através da tradição e de qualquer maneira que um ser humano possa levar a vida, algo que permeia a existência comum é a necessidade de se alimentar para sobreviver. A demanda biológica por comida levou a diversas formas de preparo e consumo ao redor do mundo, tornando a culinária em uma arte até mais do que uma tática de sobrevivência.

Não é incomum a existência de animes que tragam um ponto de vista focado na arte culinária, entretanto, Dungeon Meshi (2024) faz diferente ao misturar o universo da alimentação com um de fantasia. Nesse mundo, permeado por monstros e magia, como é denotado pelo narrador: “Comer é um privilégio dos vivos.”

A animação, produzida pelo Studio Trigger e adaptada do mangá de mesmo nome, conta da Jornada de Laios Touden e sua equipe, que se aventuram por uma masmorra quando são atacados por um dragão que devora Falin, a irmã de Laios, a qual em um último esforço desesperado, consegue teletransportar o resto dos aventureiros de volta para a superfície, mesmo que sem os equipamentos, comida e dinheiro que transportavam consigo.

Já na superfície, Laios se vê em situação crítica, com duas deserções e uma falta latente de dinheiro tanto para comida quanto para recontratações, o que dificulta o já difícil objetivo de retornar ao calabouço para resgatar sua irmã, antes que essa seja completamente digerida. Ainda, o retorno não é solitário, Marcille e Chillchuck, o resto não desistente da equipe, decide voltar com Laios para essa jornada, cada um por seus motivos.

O trio é contemplado pela fome, e, sem dinheiro para comprar comida na superfície, seguem por falta de opção a sugestão de Laios: Comer os monstros que habitam os andares da masmorra. A tentativa de preparo do primeiro prato chama a atenção de Senshi, um anão que passou os últimos anos estudando como usar as criaturas na cozinha e se alimentar da melhor forma possível longe da superfície, o qual então junta-se ao grupo e os acompanha na jornada para resgatar Falin.

O descenso do quarteto então tem início, com os episódios iniciais tratando do desenvolvimento dos integrantes da equipe como personagens e como parceiros uns dos outros, mas não são apenas os problemas do esquadrão de Touden que o anime aborda. Conforme os andares ficam para trás, mais e mais vezes outros grupos são introduzidos, trazendo uma diversidade de espécies ficcionais e abordagens de combate que é muito bem vinda para realçar a imersão da obra, já que todas essas pessoas se movimentam mesmo sem o acompanhamento do espectador, fazendo do ambiente algo vivo.

O ecossistema de monstros e o interesse de Laios por eles, além das diversas formas como Senshi os prepara também contribuem extensivamente para a construção do mundo, as receitas não parecem completamente inventadas na hora em sua maioria, e a biologia é infundada em seu próprio sistema. Tudo é verossímil dentro das próprias regras estabelecidas e segue coerente através de toda a jornada.

 A masmorra em si, mesmo que na maioria das vezes servindo apenas como o ambiente para esse ecossistema, também apresenta muita história por trás dos perigos que a habitam e seus caminhos que mudam. Não demora muito para que essa mitologia se prove real e passe a interferir no caminho dos protagonistas, trazendo mais um elemento com o qual devem se preocupar.

 O foco maior na culinária do que no combate propriamente dito traz um frescor e um toque único para a animação, que é lançada em um período essencial para animes de fantasia, com o lançamento extremamente bem recebido de Frieren e a Jornada para o Além (2023) e o anúncio de uma adaptação do popular mangá Witch Hat Atelier para o ano de 2025.

Dungeon Meshi chama a atenção não só pelo mundo bem construído e narrativa imersiva, mas também por deixar o rumo da história ser ditado pelas motivações de seus personagens multidimensionais, que não se resumem só às suas funções ou gostos culinários, ou a qualquer característica única que seja.

Os visuais de forma alguma deixam a desejar, cada monstro e aventureiro é distinto e reconhecível entre si, e as comidas, inspiradas por receitas reais, te fazem querer ter acesso aos ingredientes diegéticos, mesmo que de longe dos perigos da masmorra de onde foram retirados. Afinal, é dito pelo narrador que “Comer é um privilégio dos vivos.”, mas não se deixa de inferir que “Ser comido é uma consequência para os mortos.”

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