Debates Transversal: “Troca de Conteúdos: a produção colaborativa como catalisadora de potenciais criativos” no 2º Contato

O primeiro debate transversal do 2º Festival Contato, que aconteceu de 8 a 12 de outubro, trouxe convidados e discussões animadoras para qualquer entusiasta de uma comunicação mais democrática – ou seria melhor, talvez, apenas dizer uma Comunicação democrática de fato.

Os primeiros a fazerem suas apresentações, cada uma com cerca de 20 minutos, foram Carlos Rocha, professor da Universidade Federal do Paraná e responsável pela implantação da rede que explicaremos a seguir (IFES), e Edward Madureira Brasil, reitor da Universidade Federal de Goiás, membro da Diretoria Executiva da Andifes e presidente do Grupo de Trabalho para Implantação da Rede Ifes. Essas duas personalidades trouxeram informações preciosas para muitos (ouso dizer todos) dos que estavam ali. Digo isso porque essa mini-palestra dentro do debate foi a que realmente me surpreendeu e estou certa de que não fui a única… A surpresa veio da falta de informação (como todas as surpresas), da minha ignorância sobre o rumo de velhas e quem sabe não eternas discussões sobre os caminhos tão pesquisados e tão debatidos para se conseguir uma integração universitária, uma integração da comunicação e uma integração cidadã, pode-se dizer…  Que desvendemos nossos olhos, então:

A rede a qual me referi e que foi “trazida à luz” é a IFES, rede das Instituições Federais de Ensino Superior, projetada inicialmente em 2003 por dirigentes de rádios e televisões de universidades federais do interior, nascida da constatação dos aspectos que tais instituições públicas têm em comum – no caso aqui, a problemática em torno da criação e manutenção de televisões e rádios próprias.

Com o início possível devido também ao avanço das mídias digitais, a rede IFES em si é um amplo “menu” de programação de rádio e TV montado pelas próprias universidades e disponível para intercâmbio entre essas instituições, segundo o interesse de cada uma (podendo servir até mesmo para quem não possui e/ou não quer possuir rádio e TV, isto é, a rede se configura também como fornecedora de material didático). Essa rede, assim, acaba por encorajar a manutenção das TV e rádios públicas visto a tamanha redução do obstáculo econômico e exaustivo que é a produção de uma grade de programação própria, em especial quando necessária quase que simultaneamente a criação desses meios de comunicação da universidade. Vale lembrar que essa rede se destaca também por não ter uma “cabeça”, ou seja, por ser horizontal, não hierarquizada, o que confere às Universidades completa autonomia e preservação de sua identidade regional… Não mais se privilegia uma visão EIXO RIO-SÃO PAULO sobre o Brasil, valorizam-se, sim, a nossa diversidade, os nossos sotaques, os nossos trejeitos.

De fato, um debate esclarecedor e empolgante que trouxe ainda outros personagens unidos por uma mesma motivação: Francisco César Filho, da Gerência de Aquisição de Conteúdo da TV Brasil, e Victor Chagas, editor do site Overmundo.

Francisco C. Filho trabalha na nova emissora que se propõe a configurar uma TV pública e cidadã, uma TV que não esteja à mercê do mercado ou de controle do poder político, mas sim da sociedade civil, com uma programação com ênfase em  “informação artística, cultural e científica, no bom jornalismo, no debate das questões nacionais, na expressão da pluralidade social”, como seus entusiastas mesmos dizem.

A TV Brasil e a Rede Ifes em muito se ligam e se espelham. Ambas estariam buscando uma Comunicação Democrática, possibilitando (e valorizando) o retrato da colcha de retalhos cultural que é nosso país e trabalhando por nos transformar em melhores cidadãos.

A TV Brasil tenta montar uma programação diversificada tendo apenas 20% de grade da própria emissora, dando espaço para iniciativas independentes (20% da programação) e impulsionando as emissoras regionais (40% da programação) para que não sejam meras retransmissoras. A rede IFES também, a seu modo, encoraja a produção audiovisual de diferentes pontos do nosso território possibilitando também um rico intercâmbio entre tais nós e, por conseqüência, ajudando na valorização dessas culturas diversificadas – valorização que, sem dúvida nenhuma, trabalha em nome do que se chama de cidadania também.

De qualquer modo, não poderia faltar no quadro de debatedores alguém singular em meio a tais personagens de peso (e talvez um pouco mais vivenciados), o aparentemente jovem editor do site Overmundo – a internet como o meio de comunicação revolucionário mais recente não poderia ser deixada de lado de forma alguma.

O editor do site também se mescla às motivações de todos os debatedores citados acima: o seu site, Overmundo, é um website colaborativo sobre cultura brasileira que se propõe a dar voz à produção cultural espalhada pelo Brasil e sem acesso à grande mídia.

No Overmundo, todos podem participar e é isso que lhe confere valor – amadores e profissionais, de todos os cantos, podem postar e editar. Têm-se sessões como o overblog, com categorias de postagem como música, cinema/vídeo, literatura, artes cênicas, artes visuais, artes eletrônicas, diversão, cultura e sociedade; o banco de cultura, onde se postam os conteúdos propriamente ditos, os registros; o guia da cidade, em que o colaborador pode dar dicas culturais sobre sua cidade; a agenda, informando os eventos marcados, etc…

Em resumo, o site realmente é arquitetado de modo colaborativo a partir das postagens de outros, com a pequena restrição de que seja sobre cultura. A edição dos textos é feita também conjuntamente, assim como a eleição das “manchetes” (as postagens mais votadas que se tornam “destaque”). Já a moderação, que controla o que deve ou não ficar no site, acaba sendo de um grupo restrito por escolha da própria comunidade extensa de participantes, no entanto, os mesmos acabam contribuindo nessa seleção indiretamente, visto que ela é feita através de suas listagens de postagens que acreditam não se encaixarem no site (a listagem se dá através de uma ferramenta chamada “alerta!”.)

O site, pois, assim como a TV Brasil e a rede IFES, trabalha a favor da diversidade cultural brasileira e do incentivo àqueles que não têm espaço nas grandes mídias… O debate foi até as 16h e também foi transmitido pela Rádio Ufscar simultaneamente –  mais uma preocupação com a comunidade e com o uso efetivo do aparato do projeto de extensão… O debate, assim como todo o Festival Contato, realmente vale a pena não só pela bagagem a que tantos vêm passar pra frente, mas também por presentear uma espécie de “combustível” a todos que almejam e trabalham na área de Comunicação já que nos deparamos com tantas pessoas talentosas, com tantos projetos promissores e com tanta vontade de melhorar.

Suzana Bispo é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Este post tem um comentário

  1. Author Image
    fernando

    isso seria um texto sobre produção colaborativa??? obrigado

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