Entrevista com Guto Parente

Por Lidiane Volpi*

Guto Parente é o cineasta entrevistado na atual edição. Em conversa com a RUA, o diretor fala acerca do processo de criação no filme Doce Amianto, bem como questões mercadológicas e de público, intrínsecas ao fazer cinematográfico.

 

RUA: Doce Amianto possui um roteiro bastante original, subverte o aspecto de fábula, o próprio filme é uma explosão de cores. Como fora o processo de concepção do roteiro?

Guto: A primeira versão do roteiro foi escrita pelo Uirá a partir de um poema dele chamado Solilóquio/Amianto. Depois eu entrei no projeto e nós passamos a desenvolver juntos esse roteiro e a pensar a concepção visual do filme. A partir da história e da personagem que tínhamos foi muito natural explodir em cores.

 

RUA: Como foi o processo de produção de Doce Amianto?

Guto: A gente fez o filme com o dinheiro de um edital de curtas da Secultfor que eu tinha ganho. O projeto já era também com o Uirá e o roteiro era a história que Blanche conta para Amianto no meio do filme, criado a partir de um conto do Bukowski. A Ticiana Augusto Lima foi nossa produtora e fez milagre com a mixaria que era esse prêmio do edital. E se nossos talentosos amigos não tivessem embarcado na viagem do filme e se dedicado como eles se dedicaram nada teria sido possível. Foram três semanas muito intensas de filmagem, além de uma pré-produção de mais de um mês, pesquisando referências, conversando, ensaiando. Nos divertimos muito.

 

RUA: A história é dotada de características fabulescas, no entanto ela subverte a isto em uma série de aspectos.  Para criar o ar de fábula, quais foram as opções narrativas e estéticas que utilizaram? Há influências no trabalho de outros realizadores?

Guto: Nada é realista no filme, mas tudo é real. Os sentimentos da Amianto são reais, assim como seus sonhos e devaneios. A amiga fantasma é tão real quanto um sorvete de creme derretido sobre a pêra mais gostosa. Para criar uma história fantástica é preciso que se acredite nela.

 

RUA: Apesar de roteiro e decupagem, que são praxe para o cinema, houve espaço para experimentação? Aliás, qual a importância da experimentação para o trabalho de vocês?

Guto: A gente fez tudo o que tinha vontade de fazer. Doce Amianto é um filme esteticamente despudorado. E isso só é possível dentro de um esquema de criação muito livre, onde não precisamos responder a quaisquer expectativas.

 

RUA: Como tem sido a recepção do público referente ao filme?

Guto: Todas as sessões que acompanhamos foram bem surpreendentes. Positivamente. É claro que existem várias pessoas que não embarcam na proposta, não entendem a escolha do registro de atuação, o anti-naturalismo e a falta de uma história mais palpável e clara para se agarrar. Mas quem topa perder o chão e viajar junto com a personagem costuma reagir de maneira bastante eufórica

 

*Lidiane Volpi é graduanda do curso de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editora Geral da RUA.

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