O Professor Dr Jorge Leite Júnior, professor adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em entrevista concedida a revista disserta acerca de assuntos que perpassam a temática que rege a revista em Setembro, Gênero e Sexualidade. Temática esta que também é contemplada por muita de suas pesquisas.
Por Lidiane Volpi*
Fotos por Maurício Minoru** e Beatriz Buck
RUA: Jorge, aquém a um cinema dominante, não só em questão de distribuição e exibição, mas em perpassar valores da sociedade a qual está inserida (patriarcal e heteronormativa), há produção de filmes quem transcendem a isso atualmente?
Jorge Leite Júnior: Sim, existem muitos filmes deste tipo questionador e transgressivo, como os filmes do canadense Bruce Labruce, ou as performances do grupo brasileiro “Solange tô aberta”.
RUA: Há diferença de abordagem na questão de gênero nos diferentes meios audiovisuais? Como essa abordagem se dá?
Jorge Leite Júnior: É complicado afirmar que existe uma abordagem de gênero diferente no cinema, no vídeo, na música ou nos meios digitais como um todo. O que acredito e posso afirmar com mais certeza é que existe uma visão tradicional e, mesmo que fortemente questionada, ainda hegemônica, que pressupõe uma divisão hierárquica que valoriza o polo masculino mais que o feminino, enquanto que este segundo é constantemente pensado como frágil, emotivo, associado ao doméstico e ao privado. Da mesma maneira ainda existe a “naturalização” da heterossexualidade. E esta visão perpassa ainda a grande maioria das obras dos vários meios audiovisuais.
Outro elemento importante é que cada nova leva de inovação tecnológica ocorre sempre no contexto de uma mudança social maior. Desta forma, a cada nova tecnologia audiovisual que surge, um contingente maior de grupos que antes não participavam tão ativamente da produção anterior são incorporados. É o caso das mulheres que, comparadas a produção/ direção cinematográfica da primeira metade do século XX, eram em menor número do que as diretoras de produções em vídeo e depois nos trabalhos em meios digitais.
RUA: É um entrave falar de sexo e sexualidade no audiovisual brasileiro? Por que?
Jorge Leite Júnior: Depende do sentido que se esta dando ao tema do sexo. Não podemos nos esquecer que desde o início do cinema brasileiro os temas eróticos estão presentes. Além disso, algumas das mais importantes fases do cinema brasileiro como indústria, como na época das chanchadas ou das pornochanchadas tiveram o tema do erotismo/ sensualidade/ sexualidade como foco principal.
O que talvez tenhamos pouco são trabalhos que questionem a heteronormatividade e os papéis de gênero tradicionais. Talvez faltem mais obras sobre sexo que não pressuponham o amor paixão romântico (ou a violência machista) ou o ideal do casamento burguês.
RUA: Suas pesquisas versam acerca de cinema pornográfico e erótico, qual é a recepção destas temáticas no meio científico?
Jorge Leite Júnior: Minhas pesquisas sempre foram muito bem recebidas, felizmente. Neste sentido, o que importa não é o tema da pesquisa, mas sua qualidade conceitual, metodológica e sua relevância social. E alguém que ainda acredite que sexo e gênero são assuntos privados e apolíticos deve estar, literalmente, “desconectado” do mundo.
* Lidiane Volpi é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.
** Maurício Minoru é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.
*** Beatriz Buck é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.