Entrevista com Jorge Leite Júnior

O Professor Dr Jorge Leite Júnior, professor adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),  em entrevista concedida a revista disserta acerca de assuntos que perpassam a temática que rege a revista em Setembro, Gênero e Sexualidade. Temática esta que também é contemplada por muita de suas pesquisas.

Por Lidiane Volpi*

Fotos por Maurício Minoru** e Beatriz Buck

Professor Jorge Leite Júnior ministrando palestra na SeIS.13.
Professor Jorge Leite Júnior ministrando palestra na SeIS.13.

RUA: Jorge, aquém a um cinema dominante, não só em questão de distribuição e exibição, mas em perpassar valores da sociedade a qual está inserida (patriarcal e heteronormativa), há produção de filmes quem transcendem a isso atualmente?

Jorge Leite Júnior: Sim, existem muitos filmes deste tipo questionador e transgressivo, como os filmes do canadense Bruce Labruce, ou as performances do grupo brasileiro “Solange tô aberta”.

RUA: Há diferença de abordagem na questão de gênero nos diferentes meios audiovisuais? Como essa abordagem se dá?

Jorge Leite Júnior: É complicado afirmar que existe uma abordagem de gênero diferente no cinema, no vídeo, na música ou nos meios digitais como um todo. O que acredito e posso afirmar com mais certeza é que existe uma visão tradicional e, mesmo que fortemente questionada, ainda hegemônica, que pressupõe uma divisão hierárquica que valoriza o polo masculino mais que o feminino, enquanto que este segundo é constantemente pensado como frágil, emotivo, associado ao doméstico e ao privado. Da mesma maneira ainda existe a “naturalização” da heterossexualidade. E esta visão perpassa ainda a grande maioria das obras dos vários meios audiovisuais.

Outro elemento importante é que cada nova leva de inovação tecnológica ocorre sempre no contexto de uma mudança social maior. Desta forma, a cada nova tecnologia audiovisual que surge, um contingente maior de grupos que antes não participavam tão ativamente da produção anterior são incorporados. É o caso das mulheres que, comparadas a produção/ direção cinematográfica da primeira metade do século XX, eram em menor número do que as diretoras de produções em vídeo e depois nos trabalhos em meios digitais.

RUA: É um entrave falar de sexo e sexualidade no audiovisual brasileiro? Por que?

Jorge Leite Júnior: Depende do sentido que se esta dando ao tema do sexo. Não podemos nos esquecer que desde o início do cinema brasileiro os temas eróticos estão presentes. Além disso, algumas das mais importantes fases do cinema brasileiro como indústria, como na época das chanchadas ou das pornochanchadas tiveram o tema do erotismo/ sensualidade/ sexualidade como foco principal.

O que talvez tenhamos pouco são trabalhos que questionem a heteronormatividade e os papéis de gênero tradicionais. Talvez faltem mais obras sobre sexo que não pressuponham o amor paixão romântico (ou a violência machista) ou o ideal do casamento burguês.

RUA: Suas pesquisas versam acerca de cinema pornográfico e erótico, qual é a recepção destas temáticas no meio científico?

Jorge Leite Júnior: Minhas pesquisas sempre foram muito bem recebidas, felizmente. Neste sentido, o que importa não é o tema da pesquisa, mas sua qualidade conceitual, metodológica e sua relevância social. E alguém que ainda acredite que sexo e gênero são assuntos privados e apolíticos deve estar, literalmente, “desconectado” do mundo.

 

* Lidiane Volpi é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

** Maurício Minoru é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.

*** Beatriz Buck é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.

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