Entrevista com Renato Ciasca e Beto Brant

Este ano, no mês de Abril, ocorreu a 12ª Semana de Imagem e Som. O evento é organizado anualmente pelos alunos do curso cujo nome empresta título a semana. Neste ano, os realizadores em destaque foram Beto Brant e Renato Ciasca que trouxeram o filme ”Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”. A equipe da RUA entrevistou os dois realizadores e o resultado desta conversa pode ser lido abaixo.

*Por Thiago Jacot e Fernanda Costa

Beto Brant e Renato Ciasca

 

RUA: É cada vez mais difícil produzir para cinema, é algo muito custoso. Também é sabido que os novos meios são atrativos, inclusive vocês tem produzido material para a web. Como é isto para vocês? Por que ainda fazer cinema?

Beto: Olha, acho que tudo é válido.O legal é que os cursos também estão se modificando. Antigamente era algo cadêmico, convencional, e hoje isto está se ampliando: midialogia, audiovisual. Até o próprio mundo com o caminho da informação rápida. Isso muda completamente a ideia de comunicação e, portanto, possibilidades são ampliadas. É um ciclo, primeiro veio o cinema, depois a televisão e agora está evoluindo para muitas direções. Nós mesmos nos dedicamos ao documentário, estamos tentanto fazer um programa de TV, buscando alternativas.

Estamos lançando um filme que fora idealizado no festival de artes Serrinha, que ocorre em Bragança durante três semanas, é baseado na experiência que tivemos em uma oficina de dança. A produção fora feita de maneira colaborativa e, assim, como se sabe, fica difícil de comercializar. Como vou atribuir valor comercial? Como vou dividir os direitos sobre a comercialização deste filme? Portanto, ele se configura como sendo algo invendável. Mas existe uma ferramenta poderosa hoje: a internet que é capaz de disponibilizar, fazer o material andar sem que se necessite correr atrás de público  – que é a forma convencional do cinema, na qual tem-se que ir atrás de onde o público está. A difusão sofre uma revolução hoje em dia. Todas as informações correm o mundo, derrubam governos, ditadores. Estamos vivenciando a revolução da tecnologia e da informação. E o cinema consegue perseverar, coexistir neste lugar, porque tem folêgo, não é uma informação sintética. O cinema tem o sabor de ser um trabalho vertical, de adensamento dentro de um tema, de lapidação, um trabalho quase que artesanal, capaz de retratar o tempo em que fora feito. Portanto, os filmes perduram.

Renato Ciasca: Eu acho que, somado a isto, tem o fato do cinema ter sido uma grande revolução do entretenimento e também meio para difusão cultural. Um patrimônio é guardado com a preservação cinematográfica e este é utilizado para a educação, para estimular a inventividade, para se pensar nas questões modernas. A modernidade de maneira geral ainda está embutida neste cinema mais tradicional e que, ao mesmo tepo, não é convencional devido a todas as mídias que existem por aí. Faz-se filmes com uma facilidade muito grande, porém, acho que o cinema ainda persiste com essa função educacional, de ilustração, ilustrar a vida. O cinema brasileiro, no qual não existe uma indústria,  persevera com filme autorais. Se é diretor, montador, fotógrafo da obra, sendo que isto não é necessariamente bom ou ruim.  Consegue-se manter uma diversidade.

Se for pegar os filmes que são produzidos anualmente, uma parcela possuí uma proposta comercial, comumente (mas não sempre) de narrativa rasa; mas por trás disso existe um cinema muito grande, muito generoso pela sua possibilidade de temas, questões, modos de ser feito. Há também este sentido romântico, da película, que nunca acaba, se consegue pepetuar para sempre. A gente percebe isso, que nosso cinema não é comercial, não tem ampla bilheteria, mas tem muita longevidade. Estreamos o ”Receberia as Piores Notícia de Seus Lindos Lábios” há um ano atrás e hoje  o apresentamos para uma plateia interessada em cinema. E o filme, gostando ou não, concordando ou não, ele está aí, ele gera o debate. É muito interessante o cinema como base, como estrutura de transformação. Acho inclusive que, em pouco tempo, haverá venda de filmes brasileros para as escolas, como os livros hoje o são.

RUA: Foram discutidas aqui muitas características interessantes do trabalho de vocês, mas selecionamos uma aproveitando que estão os dois aqui que é, justamente, essa parceria. Como se dá, depois de tantos anos trabalhando juntos e, tendo em vista as diferenças na formação cinematográfica de vocês, o resultado deste trabalho?

Renato Ciasca: Estamos atingindo uma maturidade em nosso trabalho. Temos 25 anos trabalhando juntos e de amizade, já quase cinquenta de vida. Isso é uma demonstração óbvia das fases da vida, se tem momentos e momentos. Tem época em que estou fazendo uma coisa e o Beto outra, também tem momentos em que nos juntamos para determinado projeto. Vivemos buscando projetos para realizar por vontade nossa e cada vez com uma ideia diferente para uma proposta de roteiro, uma proposta de locação, de filmagem. Essa somatória de vida faz com que a gente consiga ter ainda essa clareza de, em alguns momentos, estar trabalhando juntos, em outros separados, mas sempre mantendo essa nossa ideia original que é fazer um cinema bacana, que comunique, que mexa com o cidadão que se encontra recostado na cadeira.

Beto: E, acrescentando ao que ele disse, a gente pensa no cinema como uma filosofia de vida. A cada filme partimos para uma aventura, o filme em si é uma aventura.

 

* Thiago Jacot é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editor da RUA.

* Fernanda Costa é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

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