MIS – Exposição Stanley Kubrick

*Por Henrique Rodrigues Marques

kubrick

As cenas polêmicas de Azul é a Cor Mais Quente, o impacto visual de Gravidade, as princesas da Disney que trocaram as coroas por armas e biquinis em Spring Breakers. 2013 foi um ano de grandes eventos para os cinéfilos mundo afora. Mas, para os brasileiros, o acontecimento do ano foi, sem dúvida, a vinda da exposição de Stanley Kubrick para o Brasil.

Organizada pelo Deutsches Filmmuseum Frankfurt e pela The Stanley Kubrick Archive da University of The Arts London, e com apoio da viúva de Kubrick, Christiane Kubrick , a exposição  – até então inédita na América Latina – chega ao Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo. Montada em parceria com a 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que teve Kubrick como um dos homenageados do ano, a exposição estreou no dia 11 de outubro e fica no espaço até o dia 12 de janeiro de 2014.
Como ressaltou a própria Christiane Kubrick, aqui no Brasil a exposição, que leva o singelo e eloquente título Stanley Kubrick, foi montada de um modo único. Mais  do que apenas exibir os mais de 500 itens originais, a curadoria se preocupou em, cuidadosamente, criar uma ambientação que oferece uma completa imersão no universo do cineasta. Dividida em 16 ambientes, quase todos representando algum filme do mestre, a mostra é uma experiência multisensorial de dar inveja a muito parque temático por aí. A mesa de reuniões de Dr Fantástico, a iluminação no tom de velas em Barry Lyndon, um sofá em formato de boca na sala de Lolita. A direção de arte é um espetáculo à parte.

LaranjaMecanica

Mas mais do que um mero capricho estético, a ambientação montada acaba acrescentando gerando um peculiar modo de interação entre espectador e obra. Se no setor de Nascido Para Matar é necessário que se deite na beliche do quartel para ver os vídeos, nos corredores de O Iluminado o visitante se encontra desafiado a abrir portas para encontrar as relíquias. Tudo isso acompanhado das músicas temas de cada um dos filmes. Mas nada se compara as salas do Laranja Mecânica e a de 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Na primeira, foi feita praticamente uma réplica do bar Moloko Vellocet, aquele com manquins de mulheres nuas servindo de mesa onde  Alex e seus amigos iam relaxar, enquanto na segunda, depara-se com uma inacreditável e grandiosa estação espacial. Deleite de encher os olhos. A simples – se é que esse adjetivo pode ser usado para descrever, em qualquer nível, o evento – experiência de visitar esses cenários já valeria o valor do ingresso , mas ainda existe a exposição em si.

Todos os objetos fetiches dos fãs do cineasta estão lá. Os figurinos das gêmeas de O Iluminado, a máquina de Jack, a vestimenta do homem pré-histórico de 2001, o capacete e os óculos de Joker em Nascido Para Matar, só para citar alguns dos principais objetos. Além disso, é possível ver alguns artefatos mais curiosos, como a carta que Kubrick recebeu de instituições religiosas durante a gravação de Lolita, um memorando a equipe de Dr Fantástico proibindo o uso de sapatos em um dos cenários do filme e a claquete de Laranja Mecânica com um divertido agradecimento de Kubrick a seus pais.  A mostra também inclui documentos e esboços sobre os projetos que Kubrick não chegou a realizar, como sua ambiciosa cinebiografia de Napoleão Bonaparte. Um material tão rico quanto extenso, que valem a perda de algumas boas horas explorando o espaço expositivo. Até mesmo Christiane Kubrick marca presença, com uma de suas aquarelas, feita durante as filmagens de Barry Lyndon, e que foi utilizada como arte oficial dessa edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. E como o assunto aqui é cinema, a exposição conta ainda com todos os filmes de Kubrick, que são exibidos em looping em suas respectivas salas, e oferece a oportunidade rara de coferir os primeiros curtas do diretor, além das fotos que o mesmo fez para a revista Look, no início de sua carreira.

E é por todos esses motivos que a exposição Stanley Kubrick é o evento cinematográfico do ano. Mais do que um belo e merecido tributo ao artista nova-iorquino e  um delicioso presente para os cinéfilos, a expografia é mais uma prova da inovação proposta pelo MIS – que já trouxe para o Brasil a mostra em homenagem a Georges Méliès e que apresenta em seu calendário para 2014 a aguardada retrospectiva do artista multimídia David Bowie -., e da sua importância para a consolidação do audiovisual e seus desdobramentos enquanto arte, além de reinventar e atualizar o próprio conceito de museu e a forma como interagimos com as obras. Questões de vital importância para os nossos tempos.

* Henrique Rodrigues Marques é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e Editor Geral da RUA.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta