Análise fílmica de Frankenweenie

Por Amanda de Castro Melo Souza e Gabriel Ribeiro Alfredo*

Introdução

Este artigo trás a análise do curta-metragem Frankenweenie (Tim Burton, EUA/1984)  realizada para a disciplina de Teoria do Audiovisual sob a orientação da professora Flávia Cesarino Costa.

Metodologia

O artigo tem seu desenvolvimento pautado em três partes sendo elas:

A).DIVISÃO DO FILME INTEIRO EM ATOS

B). DESCRIÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DO ATO ESCOLHIDO PARA ANÁLISE

C). ANÁLISE DE UMA SEQUÊNCIA DO FILME

Após a visualização do curta-metragem Frankenweenie foi estabelecida a divisão do mesmo em atos (A), sendo que ela foi estabelecida segundo a divisão canônica (apresentação, desenvolvimento e resolução). Depois limitamos o trabalho a escolha do Segundo Ato do curta, depois foi realizada a divisão e descrição de suas sequências (B). Após essa divisão foi escolhida a sequência em que Victor tem a idéia de ressuscitar Spark para a análise e decupagem dos planos (C).

A).DIVISÃO DO FILME INTEIRO EM ATOS

Resumo do filme

O curta-metragem Frankenweenie, conta a história do jovem Victor Frankenstein, um garoto inteligente e criativo que gosta de ficção científica e tem como melhor amigo o seu cachorro Sparky, com quem faz filmes amadores para mostrar aos seus pais e amigos. Um dia, após a exibição de um desses filmes, Victor sai para brincar com Sparky, que ao buscar uma bolinha na rua é atropelado e morre. Victor então passa a sofrer a morte de seu cachorro de estimação, recusando a opinião de seus amigos de conseguir outro animal. Até que um dia, em uma aula de ciências, Victor aprende que a eletricidade pode reanimar o corpo de animais mortos, tendo então a ideia de ressuscitar seu cachorro por meio dela. Animado, volta para casa e passa ler seu numerosos livros sobre ficção cientifica, ciências e filosofia para aprender a fazer o que deseja. Passa então a construir dentro de seu sótão um laboratório improvisado para poder realizar seu experimento. A movimentação de Victor intriga seus vizinhos que vigiam a vida dos outros com muito interesse. Por fim, Victor vai ao cemitério de animais onde seu cachorro foi enterrado, retira-o de lá, para poder revivê-lo. É um dia chuvoso quando, terminado seu laboratório, se prepara para realizar a experiência. Com Sparky estendido em uma mesa, Victor liga uma série de geringonças que formam um mecanismo que levam o cachorro para a saída do sótão, onde levará uma série de raios da tempestade, em uma quantidade suficiente para fazê-lo voltar a vida. Ao retornar o corpo do cachorro para dentro do sótão, fica a expectativa seguida de um momento de frustração por achar que havia falhado, contudo Sparky volta a se mexer e, de volta a vida, cai nos braços de seu dono. Victor então passa a não ir a escola para cuidar de Sparky, seus pais notam uma mudança no filho, mas não dão muita atenção. Sparky, por mais que esteja vivo novamente, não é o mesmo cachorro por sua aparência de remendos. Um dia, ao conseguir escapar de casa e sair na rua, Sparky causa medo e pânico nos moradores da vizinhança que vão questionar aos Pais (pais) de Victor que criatura horripilante era aquela que vinha da casa deles. O pai, intrigado, descobre que Sparky está de volta a vida e, chocado, tenta acobertar o filho. Mais tarde, os pais de Victor o questionam sobre o que tinha feito. Victor diz que apenas havia trazido Sparky de volta e assim não precisariam ter outro cachorro. Os pais, sem saber o que fazer nesta situação incomum, tentam apoiar o filho, mas decidem mostrar Sparky para a vizinhança para que não haja mais desconfiança deles, para que assim possam viver em paz. Contudo, na noite em que reúnem a vizinhança toda para apresentar seu antigo cachorro de volta a vida, a aparência de Sparky aterroriza aos vizinhos que entram em pânico, causando o caos na sala da casa de Victor. Sparky então foge, sendo seguido por seu dono e logo em seguida pelos vizinhos enfurecidos com aquela “aberração”. Sparky e Victor se refugiam em um moinho de vento de um campo de minigolfe. Ao serem encurralados pelos vizinhos, ficam presos quando, acidentalmente, um deles põe fogo no moinho. Os pais de Victor tentam tirá-lo de lá, mas não conseguem alcançá-lo. Victor cai em um buraco do moinho e fica inconsciente. Os vizinhos se assustam com o que haviam feito e com a preeminente morte do garoto preso no moinho em chamas. Então, de maneira heróica, Sparky consegue tirar Victor de dentro do moinho levando-o vivo para seus pais. Porém, a estrutura do moinho cede e cai em cima de Sparky, matando-o novamente. Os vizinhos se comovem com a atitude heróica do cachorro e, em um ato de redenção, sob figura desesperada de seu dono, tomam a iniciativa de revivê-lo novamente. Com a bateria dos motores de seus carros, os vizinhos formam um círculo em volta de Sparky, que é ligado por fios aos motores que entram em funcionamento e, por fim, acabam ressuscitando o cachorro novamente, um momento de felicidade a todos. Aparece então a figura de uma cachorra pela qual Sparky se apaixona a primeira vista, levando a catarse final do filme com um final feliz clássico.

Primeiro Ato – (00:00 min– 02:03min)

Apresentação de personagens (Victor, pais, amigos, cachorro Sparky) dentro do mundo comum na jornada do herói, o tempo que decorre entre os acontecimentos é curto não há grande elipse temporal, aproximando do tempo real.  Os acontecimentos são: A apresentação do filme de Victor,;os pais parabenizando Victor (casa), este sai para brincar com Sparky (quintal); o cachorro então sofre um acidente que o mata (rua). A morte de Sparky representa o primeiro ponto de virada. A casa, a vizinhança, a família e o cachorro expressam um lugar comum e uma família normal, porém Victor demonstra ser alguém especial e criativo ao realizar um filme de ficção científicacom seu cachorro. A afetividade entre Victor e Sparky é demonstrada através do filme que fazem juntos e de sua brincadeira com a bola.  A bolinha, utilizada na brincadeira entre Vitor e Sparky, é um elemento de trama que merece atenção especial, pois a morte não nos é apresentada, nós somos levados a percebê-la através do som do carro e da bolinha, que rola até a calçada sem a reação de Sparky. A música acompanha a sequência, sendo calma, na apresentação ao mundo comum externo e, dramática ao prenunciar a tragédia. Corta-se para os créditos inicias que é o ligamento para o segundo ato.

Segundo Ato – (02:03 min – 12:15 min)

O processo de luto, descoberta e ressurreição de Sparky possui uma temporalidade diegética bem maior que a mostrada, logo, possui muitas elipses temporais e ações que devem ser inferidas. Os acontecimentos são: créditos iniciais e enterro de Sparky (cemitério de animais);  Victor tenta se consolar da morte do cachorro com seus amigos (rua e casa); descobre a possibilidade de ressuscitar o cachorro em uma aula de ciências (escola); Victor inicia a preparação para ressuscitar Sparky, volta para casa e com livros  e materiais (rua e casa) ; retira material para construção de laboratório, vizinhos desconfiam (quintal e sótão); tira o corpo do cemitério(casa, rua e cemitério), ressurreição do cachorro (sótão da casa). Neste ato, a atuação do garoto é primordial para sua demarcação como protagonista, ele tem de demonstrar a tristeza da perda do animal, a euforia na descoberta da volta a vida pela eletricidade e a obstinação ao construir um laboratório e ressuscitar seu amigo. A ressurreição do cachorro é o segundo ponto de virada de enredo. Alguns elementos de enredo, além de técnicos, compõem a atmosfera fantástica e sombria do filme, ao se mostrar um cemitério de animais, a possibilidade de um garoto poder construir um laboratório em seu sótão e reviver seu animal de estimação, além dos olhares desconfiados dos vizinhos, o próprio cemitério e o fato de o garoto estar tirando um corpo morto de uma cova e o levar para casa. Elementos de cenário, o enredo e o próprio nome do personagem remetem ao clássico de horror Frankenstein (1931) de James Whale. A música e a iluminação entram como elementos importantes na construção das cenas, principalmente na da euforia da descoberta e desenvolvimento do processo de ressurreição, que termina com Sparky de volta a vida e o deleite de seu dono.

Terceiro Ato – (12:15 min – 24:39 min)

Neste ato temos os acontecimentos que se sucederam a ressurreição de Sparky, assim como no segundo ato, o tempo diegético é extenso e, portanto, vemos certa quantidade de elipses temporais, porém, em menor número que no segundo. Os acontecimentos são: Victor para de ir à escola para cuidar de Sparky, que agora se esconde no sótão (casa, rua e sótão); Sparky aproveita o cochilo do dono para poder sair de casa, o cachorro então se mostra aos vizinhos, sendo então visto como um monstro por sua aparência (casa, rua, casa do vizinho, quintal da vizinha); volta para casa, vizinhos questionam os pais de Victor, descoberta de Sparky vivo pelos pais que tentam acobertar o filho ( rua, casa/ sótão); os pais passam então a discutir sobre o futuro de Sparky, decidem mostrar Sparky para os vizinhos para acabar com a tensão (quintal, casa/cozinha); reúnem então os vizinhos, todos se desesperam e passam então a perseguir Sparky, que foge (casa/cozinha, rua). No começo do terceiro ato já percebemos que Sparky não é o mesmo ao transbordar água por seus remendos enquanto toma água, impressionando seu dono. Além disso, sua saída para o mundo exterior, fora da casa de Victor, faz com que ele entre em contato com a vizinhança, de forma misteriosa e intuitiva, através da utilização de luzes e sombras, relembrando técnicas modernistas de construção de suspense, já o horror (transbordado de um tom irônico e cômico) se representa pelos gritos e closes faciais das personagens. A banda sonora liga o terceiro ato ao quarto e último.

Quarto Ato – (24:40 – 30:00)

Ato que apresenta a fatal perseguição à Sparky e a sua nova ressurreição. O tempo diegético aqui é bem menor que nos dois últimos atos, contado com pequenas elipses. Os acontecimentos são: Sparky se refugia no moinho do mini golfe seguido de seu Dono (minigolfe); vizinhos enfurecidos os alcançam, Victor olha amedrontado para o que está acontecendo, e, acidentalmente, os vizinhos ateiam fogo no moinho (minigolfe, roda moinho); Victor e Sparky estão presos, Victor cai e fica inconsciente (roda moinho); Sparky salva Victor do moinho; o moinho se destrói e cai em cima de Sparky, que morre novamente, Victor entra em desespero (minigolfe); redenção de Sparky por ter salvado Victor, os vizinhos se juntam para ressuscitar Sparky novamente(minigolfe); Sparky volta a vida novamente, causando comoção em seu dono, e, Sparky conhece uma cachorra que será seu par romântico. Fim (minigolfe). Novas referências ao filme Clássico de Frankenstein: o ódio dos vizinhos com o estranho, o acidente dramático cria uma atmosfera de clímax que é o desfecho a história. Cena gravada em um grande estúdio, como era feito antigamente. Uma animação chama o ‘fim’ para os créditos finais.

Considerações sobre o curta

Há eventos da história que não são apresentados visualmente e precisam ser inferidos pelo espectador, o principal encontrado em Frankenweenie é a morte do cachorro, a qual devemos inferir através do som do carro e da reação das personagens, a sequência seguinte (no cemitério de animais) confirma o fato.

Além disso, há a manipulação da trama sobre a ordem temporal, a frequência ou duração dos fatos já que as ações mais relevantes são mostradas de maneira mais duradoura que as outras, sendo que algumas nem são mostradas por conta do uso de elipses. Um exemplo de manipulação da duração temporal da trama seria a construção do laboratório, vemos Victor pegando os materiais necessários para construção e, logo em seguida, vemos o laboratório pronto. Isso demonstra que a construção do laboratório é menos relevante que a o processo de ressurreição do cachorro, que é mostrado em uma seqüência inteira.

A narração funciona de uma maneira alheia a um narrador específico, que narre a história em off, ou como uma memória do personagem. A narração é mimética, os fatos não são contados, são apenas mostrados. O narrador é a instância maior que direciona nossos caminhos por entre a narração. O narrador, não sendo específico, não se identifica com nenhum personagem. No entanto, a narração segue dois personagens, Victor e Sparky. Como ocorre na linguagem clássica, os créditos nos dão consciência do filme, porém, não apresenta um alto grau de consciência, não há elementos que nos remetam a autoconsciência do filme, como as performances dentro do gênero musical. O gênero suspense é o que mais se aproxima à “Frankeweenie”, desta forma a comunicabilidade é baixa, na cena da perseguição de Sparky e Victor pela vizinhança sabemos que algo vai acontecer quando ficam encurralados no moinho, porém, não sabemos o que. Contudo, ao fim obtemos conhecimento de todos os fatos apresentados, por se tratar de uma narração clássica. De acordo com a teoria de David Bordwell, “Frankenweenie” apresenta um alto grau de onisciência já que “estimula através da escolha correta de seu objeto e posicionamento, a sensação no receptor de estar presente à porção mais vital da experiência.” (LANE, 1953: pág. 95), Tim Burton nos apresenta todos os fatos relevantes a história no momento necessário.

A narração nos fornece os elementos importantes à caracterização psicológica dos personagens, em especial no caso dos personagens principais. Victor é criativo e obstinado, percebemos isso pelo fato de ele produzir filmes caseiros de ficção científica. Seu afeto por Sparky é mostrado através de suas brincadeiras. Sparky em conseguinte se mostra corajoso e fiel ao salvar seu dono do moinho em chamas. Podemos até traçar o perfil de personagens secundários, como da mãe de Victor que é irônica como percebemos em um diálogo durante um café manhã, quando fala sobre um presente recebido de sua cunhada.

O filme apresenta uma linearidade clássica, em que um fato desencadeia outro, porém, por ser uma ficção fantasiosa, seu final é surpreendente para o espectador. Todas as linhas narrativas, apresentadas no inicio do filme, se fecham (a amizade entre Victor e Sparky sofre diversas interferências e é reestabelecida no final). Contudo, uma nova linha é aberta no fim do filme (Sparky conhece uma cachorra) o que dá vazão a uma continuação da história. Tim Burton utiliza isso como uma referência ao filme posterior ao Frankenstein, A noiva de Frankenstein, 1935. Não existem diferenças marcantes entre trama e história. O enredo é linear, sem utilização de Flashbacks ou Flashfowards. Existem elementos antidiegéticos no filme tais como a trilha sonora bem acentuada e os créditos iniciais.

O curta “Frankeweenie” é o filme inicial da carreira de Tim Burton como diretor, nele está expressa a temática e a estética que estarão sem presentes dentro de sua carreira. A morbidez, associada ao fantástico e ao belo em conjunto com a figura de um pária dentro do que é estabelecido como normal pela sociedade está bem expresso no curta, através das personagens principais e de situações interessantes como a cena em que Victor olha para janela e mostra um exterior chuvoso, como um reflexo ao que está sentindo, porém, ao fazer um contra campo e um movimento de câmera vemos que na realidade não está chovendo e que na verdade tudo está feliz e normal em contraste ao luto do garoto.

Não há uma visão política forte. Porém, podemos encontrar uma social. Dentro da figura do pária, agora em relação ao Sparky de volta a vida, temos uma crítica ao preconceito da sociedade em relação ao que é estranho, baseando-se simplesmente nas aparências.

B). DESCRIÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DO ATO ESCOLHIDO PARA ANÁLISE

Foi escolhido o Segundo Ato (02:24 min. – 12:15 min.) para a análise mais detalhada logo, de 9:51 min.

Frankenweenie – Segundo Ato

Sequência 1 – Créditos Iniciais (2:24 – 3:55) 1:31 min. de duração.

A sequência se compõe com aparecimento do título do curta e os créditos de funções das pessoas que realizaram o curta-metragem. Isso se dá com a inserção dos títulos em enquadramentos de planos conjuntos de tumbas em um suposto cemitério de animais. A música se faz muito presente, apresentando o que seria a tema principal do filme. Por fim, a sequência acaba com um movimento de câmera em grua, do enquadramento (fechado?) de algumas tumbas para um plano aberto de todo o cemitério, mostrando no centro a família junto ao túmulo de Sparky. A criação deste cenário em estúdio traz uma influência tanto dos filmes clássicos de gênero terror produzidos por Hollywood na década de 30, quanto dos filmes da vanguarda do expressionismo alemão com a utilização marcada de luz, sombra e pictoriedade. A trilha sonora marcante e com aspecto melancólico faz a junção desta sequência à seguinte.

Sequência 2 – O Luto de Victor e Sua Descoberta (03:56 – 05:59) 2:03min. de duração

A sequência é composta por três cenas. A primeira mostra Victor olhando com tristeza para uma janela que mostra um ambiente chuvoso, em reflexo a como está o mundo para ele agora que perdeu seu cachorro. Porém, em um contra campo, junto a um movimento de afastamento da câmera, aumentando o alcance do quadro, percebemos que não há chuva, mas sim um ambiente ensolarado onde a mãe de Victor joga água na janela, distraída enquanto regava as flores. Na próxima cena, vemos Victor e seus amigos andando na rua com seus materiais escolares, conversando sobre o ocorrido. A garota propõem a Victor arranjar outro cachorro. Este, de forma triste, responde que não seria mesma coisa. Já o seu amigo sugere que ele arranje um peixe, pois estes não tem personalidade, dessa forma ele ficaria acostumado em vê-los morrer. Nesta cena o diretor optou por fazer a conversa através da montagem paralela, a reação das personagens em relação ao diálogo é melhor expressa pelos closes dos rostos das personagens. Na terceira e última cena desta sequência vemos o enquadramento de uma caveira, ela está em uma sala de aula onde um professor termina sua explicação sobre história de Roma, em seguida eles vão para a matéria de ciências. Vemos Victor e seus amigos na sala de aula, todos muito entediados. O professor mostra um sapo morto à sala, que reage com nojo. Isso chama um pouco a atenção de Victor. Então, o professor fala sobre a propriedade da eletricidade de fazer corpos inanimados se mexerem através de correntes elétricas, demonstrando o efeito com o sapo que se mexe ao ser exposto a uma corrente elétrica. Victor a partir daí tem uma ideia, ele desenha em seu caderno. Victor irá reviver Sparky com a ajuda da eletricidade. Nesta última cena fica marcado o uso de campos e contra campos e decupagem através do movimento do olhar do professor e seus alunos. Também na iluminação é interessante perceber a sombra da persiana da janela, marcando uma linha estética de filmes de suspense e noir. Durante (sequência) a música funciona como um elemento conectivo, pois estava alta no início da primeira cena, diminui e, então, volta no momento de suspense do experimento do sapo e com a descoberta, servindo novamente como conectivo com a próxima sequência.

Sequência 3 – Preparação da Experiência (6:00 – 9:34) 3:34 min. de duração

Esta sequência é maior que as outras e contém um grande número de elipses temporais. Inicia-se com Victor correndo pela rua e chegando em casa, eufórico com sua descoberta. Vai para seu quarto onde lê diversos livros sobre ciências, filosofia e sobre como reviver mortos com eletricidade. Passa então a ir à garagem pegar alguns materiais para construir um laboratório em seu sótão onde poderá realizar sua “experiência científica”.   Este fato causa a desconfiança do vizinho que o observa com curiosidade, e estranheza. A mãe também acha estranho o comportamento do filho. Neste momento, dividido em varias cenas, a música deixa de ser um fator meramente conectivo entre sequências e passa a, junto com a luz e a atuação, compor uma atmosfera tensa, caracterizando o teor de suspense do filme. Em uma grande elipse temporal, vemos então Victor fazendo os últimos preparativos do laboratório em uma noite de tempestade como denuncia o barulho de raios. Fingindo ir dormir para seus pais, Victor sai de casa e vai até o cemitério retirar o corpo de Sparky de sua sepultura. Este momento é, junto com a descoberta da possibilidade da experiência, o segundo momento de clímax menores que compõem as sequências. A música forte, o plano detalhe em contra plongée do túmulo do cachorro e a iluminação diegética simbolizando os raios compõem o clímax característico de filmes de terror. Desta vez a transição de sequências é menos evidente, sem ter ajuda de um fade ou de um aumento de trilha sonora para demarcá-la. Porém, fica então um plano significativo do nome Frankenstein (agora em citação direta ao clássico) em uma caixa de correspondência, servindo como prelúdio para o que irá ocorrer em na próxima seqüência, que é a verdadeira transformação do garoto Victor, no doutor Frankenstein.

Sequência 4 – A ressurreição de Sparky (9:34 – 12:14) 2:40 min de duração

A sequência final do ato, com apenas uma cena, também a mais importante, o momento de clímax que irá levar um ponto de virada da trama. A música mantendo a sua elevação dramática já do fim da sequência anterior, em junção com os sons de trovões e chuva compõem a atmosfera que une ao mesmo tempo fantasia e suspense. Victor já está caracterizado como Frankenstein e, com todo o seu laboratório, cheio de bugigangas, inicia o experimento. Diversas correntes elétricas passam por entre os objetos, o cachorro é levantado no ar em uma taboa para alcançar o lado de fora do sótão onde deverá receber altíssimas correntes elétricas podendo assim reviver. No momento que o cachorro está fora, Tim Burton compõem a cena em uma montagem paralela entre o exterior da casa com o cachorro e os objetos dentro do sótão tornando-se incandescentes e entrando um movimento caótico que irá parar com término dos raios. Victor, que durante todo o processo olhava apreensivo ao que ocorria, traz o cachorro de volta para ao interior da casa e fica com grande expectativa em relação ao sucesso. A falta de ação do cachorro e a expressão de fracasso no rosto do garoto nos leva a crer no pior, porém, planos detalhes do cachorro em movimento nos dão a noção do sucesso do garoto, que se dá conta disso através de uma lambida do cachorro. Termina então a seqüência com o re-erguimento da música (no momento de expectativa ela cessa) e o momento de júbilo de Victor ao ter seu cachorro de volta. Um fade to black da imagem e do som fazem então o termino do aAto.

Vale ressaltar que nestas sequências , assim como no próprio curta o estilo é uma grande mistura entre um filme de suspense, terror e de ficção científica. Os cortes e a decupagem seguem a risca o estilo clássico de montagem e decupagem hollywoodiana, levando em consideração que o curta foi produzido por um grande estúdio como a Walt Disney. Porém, ocorrem exceções, como por exemplo, a decupagem em profundidade através do grande desfoque de uma lente teleobjetiva, no plano do sapo em movimento; e, também, o fato de que o filme não se torna infantil ao se infantilizar todo o processo da ressurreição do cachorro, pois, traz para o centro da trama a emotividade juvenil do amor da criança e seu cachorro.

C) ANÁLISE DE UMA SEQUÊNCIA DO FILME

A sequência que escolhida segue o personagem Victor desde seu estado de tristeza até o momento que ele tem a ideia de ressuscitar Sparky.  Ela é a transição do luto de Victor até a ressurreição de Sparky. O suspense dela rodeia a expectativa da sala diante da reação do sapo. Porém, para nós e para Victor, esta expectativa toma proporções maiores à medida que cria a possibilidade de trazer Sparky de volta.

O foco narrativo é Victor e podemos notar isso pelo fato dele estar sempre mais próximo ou centralizado dentro dos planos conjuntos.

Há elementos da narrativa que são sugeridos visualmente dentro da seqüência e que ajudam no desenvolvimento da mesma, tais como os  livros e a caveira que sugerem o tema principal que o professor vai tratar na cena da aula: ciências. Assim como o desinteresse de Victor pela aula em detrimento da saudade de Sparky é representado pelo desenho que ele faz em seu caderno, e, também, a ideia que ele teve após a explicação do professor.

A sequência discutida pode ser divida em três cenas, sendo elas o luto de Victor (casa/quintal), a conversa com seus colegas (rua) e a aula de ciências (sala de aula).

b). Decupagem da sequência (clique para aumentar a imagem)

*Amanda de Castro Melo Souze e Gabriel Ribeiro Alfredo são graduandos do curso de Imagem e Som da Universidade Ferderal de São Carlos (UFSCar) e editores da Revista Universitária do Audiovisual (RUA).

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