International Film Festival Pisek 2010

Participei da mostra não-competitiva do Festival Internacional de Cinema Universitário de Pisek (International Student Film Festival) com o curta água viva. O Festival aconteceu entre 30 de setembro e 02 de outubro de 2010 na pequena cidade de Pisek, na República Tcheca. Trata-se de um evento organizado por estudantes da Escola Independente de Cinema e coordenado por Vladana Terčová, que também é diretora desta escola.

Como vivi quase toda minha vida em uma cidade do interior, confesso que me identifiquei imediatamente com o ambiente e a forma como as relações se estabelecem em Pisek. Dificultava um pouco a convivência o fato de que poucos habitantes da cidade falavam inglês. Conversando com outros estrangeiros frequentadores dalí descobri que essa é uma consequencia do pertencimento da República Tcheca à União Soviética, o que levava as pessoas a aprenderem o russo como lingua internacional e não o inglês.

Por sua ousadia evidentemente pretensiosa, pelos riscos que corre, pela falta de pudor em lidar com as convenções e sobretudo por sua sensibilidade peculiar, entre todos os filmes um dos que mais me chamou a atenção foi Little Prague Mermaid, curta-metragem de Jan Chramosta realizado quando este era, então, estudante da FAMU – Film and TV School of Academy of Perfoming Arts in Prague.

Lugar de grandes divergências, este curta foi considerado por alguns como o grande favorito aos prêmios; mas por outros como uma grande lástima. O lirismo idealista e a poética naif do filme me tocaram pessoalmente. Porém A pequena sereia de praga, como seria uma tradução literal do título em inglês, apresenta alguns pontos mal resolvidos. O enredo tenta abarcar momentos diversos da rotina do personagem principal, quando poderia se condensar apenas no que interessa de fato ao universo narrativo, que é a vida íntima do protagonista. Por falta de cuidado, então, o filme se alonga, torna-se cansativo e perde sua organicidade. Na concepção deste filme o diretor lançou-se em uma aventura na qual exageros são fontes tanto de deleite estético como de exceços desnecessários.

Traçando uma visão panorâmica das mostras, nota-se que a curadoria não montou a programação a partir de algum eixo temático; mas conseguiu criar um bom fluxo de fruição no decorrer das sessões. Apesar de  ter sido bastante heterogênea, é evidente a preferência por filmes com técnica apurada, principalmente, na fotografia. Por outro lado, era recorrente a sensação de se deparar com filmes cujos pontos de partidas e idéias eram interessantes, cujo desenrolar narrativo não se sustentava. Chama atenção também um aspecto estético recorrentede narrativas sórdidas em ambientes soturnos.

Foram 4 dias intensos nessa pequena vila theca. Talvez os filmes fiquem menos na memória que pessoas, situações e momentos vividos. Ainda que tenha tentado me abrir o máximo que pude e ampliar minha visão, fugindo de todo e qualquer preconceito, minhas observações da cultura local, do Festival e seus filmes foram naturalmente balizadas pelo meu repertório anterior. O que espero e acredito é que, depois dessa viagem, esse repertório tenha mudado bastante e já não seja mais o mesmo.

Sou muito grato ao apoio do Ministério das Relações Exteriores, que a partir do governo atual adotou a ação de apoiar o translado de realizadores de cinema a festivais fora do país.

Raul Maciel é graduado em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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