Entrevista com Mario Manga

Músico e produtor paulistano com mais de 25 anos de carreira, acaba de lançar seu primeiro disco solo. MySpace do músico.

Entrevista realizada pessoalmente por Eric Ribeiro com Mario Manga

RUA: Qual a importância da música no filme?
Mario Manga: Depende. O filme pede uma música. Existem cenas em que esta não é necessária. Outras nas quais ela, a trilha, é essencial. Na maioria dos casos a música altera a cena. Ela faz diferença por estar ali, mas sua função é variável. Efeitos diferentes têm-se com a presença dela ou não. Eu trabalho assim: a imagem me pede uma trilha. A música esta a serviço do filme. Ela pode ressaltar um sentimento, contrapor ou até mesmo estar indiferente. A diegese é a maior forca.

RUA: Como a música se relaciona com os outros elementos sonoros?
MM: A música está a serviço do filme, como eu disse. Por isso o filme não é um veículo para difusão da música. Tenho que levar em conta todos os elementos sonoros de forma que a música não passe por cima de tudo como um trator. Eu uso muito o silêncio, já que ele não é absoluto. Tem momentos em que eu olho e penso: por que estou colocando uma trilha aqui? Não sei. Então reconheço que os outros elementos sonoros são suficientes para passar a tônica da cena e já retiro a música.

O problema é que, principalmente nos últimos anos, a música e a edição de som ocorrem paralelamente. Infelizmente. Essa troca de figurinha entre as partes torna mais difícil o trabalho. Mas sempre que possível eu levo em consideração tudo que eu tiver de referência do material sonoro e procuro deixar claro ao editor quais são minhas intenções. Como se regesse o filme ou a música em função da cena.

RUA: Como é o processo de criação musical? Qual sua relação com a imagem?
MM: Eu começo com linhas melódicas observando a imagem, cores, movimento, a história, etc. Surge aí conversas com o diretor/montador e cues que evoluirão em forma de sugestões. Desenvolver esses cues, trechos melódicos, economiza trabalho, deixa claro as pretensões. Esses mesmos trechos desenvolvidos eu posso apresentar aos músicos para que eles ouçam e entendam minhas pretensões e possam assim intervir. Porém, a música, como uma das últimas coisas a ser feita no filme, normalmente sofre com falta de verba, tempo, enfim. Isso atrapalha um maior desenvolvimento e limita o trabalho.

RUA: Como é a relação com o diretor/montador? Qual sua liberdade para intervir?
MM: Variável e flexível. Normalmente eu me dou bem. Procuro lembrar que devo entender a linguagem cinematográfica, adaptar meu vocabulário musical a quem não é musico e dialogar. Cada um acrescentando com o que tem de bom. Todavia eu aceito numa boa. Eu trabalho para o diretor. O importante é o resultado fílmico. Se o montador ou mixador me convencer que a música deve mudar, sair de cena, eu aceito numa boa. Eu espero que a recíproca seja verdadeira.

RUA: Qual sua relação com a sensível mudança no decorrer da história quanto ao processo de realização de trilhas musicais para cinema, principalmente quando da mudança do analógico para o digital?
MM: Diferentemente do histórico do cinema internacional, no Brasil não se tem uma infra-estrutura de trabalho adequada. As trilhas musicais normalmente são feitas em estúdios, espaços oriundos da produção fonográfica. Como projetar a imagem em uma tela grande para que os músicos tenham noção da dimensão do filme e da junção com a trilha? O mercado de trilha aquece e esfria. É pequeno e instável. Deve-se trabalhar com trilhas para outras coisas: televisão, publicidade, rádio, enfim. Observe que em vários casos a feitura de música para cinema é um subproduto da indústria fonográfica. Usa-se os mesmos estúdios, as mesmas músicas, as mesmas mixagens (que são as do CD e não do filme) etc.

Porém, eu procuro lançar mão dos recurso digitais para facilitar meu trabalho. Por exemplo, os seqüenciadores permitem mostrar minhas idéias mais rapidamente para a equipe. Permite mudanças mais ágeis. Quando se conhece os processos pode-se utilizar música eletrônica (bem feita, claro) e baratear a produção ao invés de contratar um quarteto de cordas, por exemplo. É mais do que óbvio que eu prefiro músicos à seqüenciadores, samples, midi, etc. Eles intervêm com idéias, improvisam, sentem. O som é outro. Porém, muitas vezes a realidade da produção (cronograma, verba) não me permite lançar mão do que é melhor. Então eu faço o melhor possível. Uso as ferramentas que tenho.

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