MOSCA 8 / Dia #4 – Mostra Infanto Juvenil III

*Por Lidiane Volpi

Na tarde de sábado, 13, aconteceu a última sessão da Mostra Infanto Juvenil na 8ª MOSCA. Contando com a presença da equipe do curta A Nobre e Breve História do Beijo, trabalho de conclusão de curso realizado por alunos ingressados no curso de Imagem e Som, na UFSCar; e com um curta que, dentre os demais, chamara atenção pelo fato do título remeter ao famoso filósofo alemão, Nietzsche; a sessão demonstrou, mais uma vez, o exímio trabalho de curadoria exercido pela organização da 8ª MOSCA.

O primeiro curta, que contou com presença de boa parte da equipe realizadora, A Nobre e Breve Historia do Beijo, dirigido por Eid Buzalaf, conta justamente o que o título exprime. Jessé, um menino de seus sete ou oito anos, crê, através de retaliação por parte de uma tia, que o beijo que dera na prima fora o causador de sua enfermidade e posterior morte. O fim revela àquela que poderia ser a lenda por trás dos beija-flores. Devido a dificuldade em se utilizar de animais reais no set de filmagens, a equipe ressaltou que optou por bonecos em substituição. A escolha angariou lirismo a imagem, repleta de bonecos coloridos habitantes de um cenário bucólico.

Folha em Branco e Meu Amigo Nietzsche, filmes que vieram em sequência ressaltaram, de forma díspar, o apreço pela literatura. Folha em Branco, de Iuli Gerbase, é centrada na vida de um rapaz e os contos que escreve. Visualizamos os personagens serem criados na tela enquanto ele, Joana e um entregador de pizza, ficam presos no elevador do prédio onde mora. Os personagens falam por si só, fazem valer sua vontade sob o destino, a fuga da solidão frente a um rio e do egoísmo da acumulação. Meu amigo Nietzsche, de Fáuston Silva, mostrou-se bem sucedido nas soluções dadas pelo roteiro. O curta, conta a história de um menino mal sucedido no ambiente escolar que tem a sua rotina e cabeça transformadas após encontrar Assim Falou Zaratrusta, em um depósito de lixo. O garoto, seduzido pelas palavras do filósofo alemão, propõe-se a mudar aquilo que o circunda: a escola, os colegas, os pais e, principalmente, a si mesmo. Apesar do estranhamento do título, o filme consegue prender a atenção dos pequenos espectadores que o assistem, mesmo que, provavelmente, nunca tenham escutado nada acerca de Nietzsche. Este, portanto, é o grande mérito do roteiro. Digo mais, este é um dos grandes méritos do cinema, traduzir para o homem comum, massacrado pela modernidade automatizada, o pensamento daqueles que podem provocar contestações àquilo que há séculos fora dado como verdade e que oprime centenas de milhares diariamente.

Cabeça Papelão e Linear, filmes que findaram a sessão, explicitam o poder da subversão existente no simples fato de questionar os caminhos que segue-se diariamente, tal qual o menino de Meu amigo Nietzche o faz. Cabeça Papelão, curta animado do diretor Quiá Rodrigues, apresenta ao espectador um personagem que, após ser considerado inapto por questionar a verdade oficial – tal qual pronunciar que quem descobriu o Brasil foram os índios e não os portugueses – troca a sua cabeça pensante por uma que não contesta. É então eleito para cargos públicos, perde a capacidade de olhar ao redor, mas ao fim, deseja voltar a ser quem era no início. Linear, de Almir Admoni, mostra-nos uma criaturinha que segue em linha reta, carregando um enorme rolo compressor, com o dever de pintar as faixas que separam o fluxo de trânsito, nas vias de uma grande cidade. É esse o movimento que vemos durante quase todo o filme até que, enfim, a criatura descobre o prazer da dança e, saindo do movimento linear repetitivo, rabisca as vias da cidade, instaurando o caos.

A última Mostra Infanto Juvenil da MOSCA, acentuou um tom que fora dado desde a primeira sessão, a necessidade de se sair da superfície, de adentrar tanto o coletivo, quanto o individual. É de extrema importância que isso seja feito para um público ainda em formação, pequeno, mas com grandes perspectivas de futuro. Não é possível se esperar nada mais do que um grande futuro daqueles que, superando a inquietude que é natural da idade, permanecem sentados em uma cadeira, com olhos extremamente atentos, fazendo as acepções necessárias para construir uma vida porta à fora das antigas instalações do Cine Elite.

* Lidiane Volpi é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos e editora da RUA.

 

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