Mostra Del Plata de cultura argentina

O SESC São Carlos trouxe no mês de Abril de 2009, a mostra Del Plata de cultura argentina trazendo recortes da música, literatura e cinema argentinos. Sob comando do palestrante professor de História do Cinema, curador e produtor de mostras cinematográficas, Jorge Roldan, a parte cinematográfica da mostra trouxe um panorama não só da cinematografia argentina, que segundo o professor é a mais importante da América Latina, mas também da política dos nossos vizinhos durante o século XX. Outras duas cinematografias que se destacam são a mexicana, hegemônica entre as décadas de 40 e 50; e a brasileira, que recebe papel de destaque nos anos 60 com o Cinema Novo. O professor iniciou seu discurso trazendo um pouco da história dos “hermanos” e relacionando-a com seu cinema, depois trouxe alguns aspectos econômicos do cinema contemporâneo argentino, assim como tendências atuais dessa cinematografia.

O professor lançou mão de uma pequena lousa branca e de uma televisão de plasma para apoiar sua explicação e facilitar a compreensão do público da palestra, na sala multiuso do SESC São Carlos. Começou abrangendo um pouco da história dos nossos vizinhos, segundo ele durante o século XX, a Argentina foi assolada por períodos autoritários de intensa censura que acarretaram na redução da produção cinematográfica a quase nada. Esse quadro só foi se encerrar com a Guerra das Malvinas e a posterior convocação de eleições democráticas. Ainda destacou que foi nesse período que a América Latina conquistou seu único Oscar, com Luis Puenzo, A História Oficial (que influencia cineastas como Fernando Solanas) e também que a produção caiu bastante na grave crise entre 1989 e 1994,e só foi impulsionada novamente depois de 1995, tanto que no ano 2000 bate os 60 filmes por ano.

Roldan falou com bastante entusiasmo sobre as leis de protecionismo do cinema argentino, que desde 1944 repassam verbas do lucro que gera exibição e distribuição de filmes estrangeiros no país para fomentar o cinema nacional chegando a bancar possíveis prejuízos dos filmes argentinos e abrindo novas salas de exibição. As verbas, a partir de 2002, eram repassadas diretamente ao Instituto Nacional de Cinematografia e Artes Visuais, o INCAA, o que facilitou ainda mais o apoio ao cinema nacional. Disse, ainda, que esse tipo de procedimento é referência para os outros países da América Latina e admirado por grandes países produtores de cinema no continente, como o Brasil.

O professor dá os créditos do ‘boom’ já citado e ocorrido após 1995 a essas leis de incentivo. E é esse período que atesta o surgimento do ‘Nuevo Cine’ argentino. Essa tendência foi formada por antigos cineastas e novos nomes provindos de Universidades e do INCAA e o filme marco desse período, Pizza, Birra, Faso, de Adrián Caetano, sendo exibido um trecho; o filme trata da realidade de Buenos Aires daquela época, final dos anos 90. Jorge Roldan considera esse realizador o mais importante dessa nova geração. Ele ainda citou e falou um pouco, exibindo trechos de filmes na televisão, sobre outros grandes nomes da tendência mais contemporânea do Cine argentino como Rodrigo Moreno, Lucrecia Martel, Pablo Trapero e Daniel Burman. Foi bastante curioso o filme Iluminados pelo fogo(2006), de Tristán Bauer, que o professor exibiu e contava um pouco de um episódio tão dolorosa para os argentinos, a Guerra das Malvinas. O diferencial do filme está em como esse realizador consegue com tão poucos recursos em mãos produzir efeitos dignos de Hollywood e manter a alta qualidade técnica da realização como um todo – isso tudo com, aproximadamente, um orçamento dez vezes menor, se comparado a um filme estadunidense desse porte.

Cena do filme Pizza, Birra, Faso, de Adrián Caetano

Outra tendência recente destacada pelo professor é a do Minimalismo nessa cinematografia. Ele a descreveu distanciando-a dos artistas do ‘Nuevo Cine’, já que esta buscava mais o social e, por assim dizer, era mais tradicional, e aquela era latente – vale lembrar que não foi um movimento orquestrado ou bem organizado – caracterizado por possuir um roteiro pequeno, carga dramática rasa e pouquíssimo conflito. Por causa disso é que o professor deixou para reflexão de cada indivíduo que assistia a sua aula: aonde reside a qualidade desse tipo de filme? Roldan passou na tela um filme da realizadora enigmática Inés Oliveira Cézar, Como pasan las horas(2005), que mostra a utilização de uma lente anamórfica, para distorcer a imagem, e obsessão pela natureza. A cineasta, ainda, faz uso de pouca intervenção musical, para não transmitir um tom apelativo, trabalha o ‘mis-en-scéne’ em sua composição de cores e linhas, e apresenta influências de outras Artes em sua película, como a pictória.

Trecho do filme Como pasan las horas, de Inés de Oliveira Cézar, que faz uso de lente anamórfica

Por conseguinte, O professor Jorge Roldan destaca o fato de a Argentina ter sido um país assolado por regime extremamente autoritário e por intensos abalados econômicos que desconcertaram todo o território em alguns momentos do desenrolar do século XX, o que veio a enriquecer ainda mais o seu Cinema, pela necessidade de um povo de expressar a opressão, as causas sociais criticando ferozmente quem está por trás de tudo isso. Ainda aliado às leis de incentivo e ao fomento que era dado ao Cinema nacional, formou-se a mais importante e respeitada cinematografia da América Latina, na opinião de Roldan. Até os dias de hoje consegue expressar-se artisticamente de forma bastante eficaz. Houveram diferentes períodos de diversificados modos de agitação do Cinema, e vale destacar a tendência do ‘Nuevo’ Cine argentino e uma outra, mais recente, de tendências minimalistas. Desse modo, para entender um pouco do desenvolvimento das cinematografias latino-americanas, é preciso ter em mente o desenvolvimento do Cinema argentino, segundo o professor. A mostra Cine Del Plata de cultura argentina no SESC São Carlos no mês de abril passado, então, serviu para um maior contato com a cultura dos nossos vizinhos de continente. A parte de cinema, sob comando de Roldan, mostrou alguns filmes, além de sua palestra, fundamentais para se entender o Cinema contemporâneo argentino.

Gui Mendes é graduando em Imagem e som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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