VI SUA Dia #5 – Teste de Audiência “Paraíso, aqui vou eu”

Por Jéssica Agostinho*

No dia 3 de maio, 5º dia da Semana Universitária do Audiovisual, a programação contou com um único evento, confirmado ainda no começo da Semana. No período da tarde, sem um horário exato para o início da atividade, foi exibido o longa-metragem Paraíso, aqui vou eu, coma presença de um dos diretores, Walter Daguerre. O filme, que ainda não estreou comercialmente, foi exibido com a intensão de que houvesse, ao seu término, um teste de audiência, ou seja, os estudantes presentes responderiam a um breve questionário a respeito de impressões acerca do longa, que, posteriormente, seria encaminhado aos seus diretores.

Walter Daguerre

A exibição, que não ocorreu nas condições ideais de projeção e som, durou cerca de uma hora e quinze minutos. O filme conta com os atores Guilherme Piva, Solange Badin, Álamo Facó e Natália Garcez e foi produzido pela Cavídeo, de Cavi Borges, que ministrou a oficina de Gestão de Produtos Audiovisuais, no 2º dia da SUA. Francisco (Guilherme Piva) é um ex-militante político e um jornalista frustrado, que escreve matérias insignificantes para um jornal qualquer. Em crise, tanto criativa quanto existencial, tem encontros frequentes com seu álter-ego imaginário Chico, interpretado por Álamo Facó, um surfista descolado e muito seguro de si. Divorciado, Francisco ainda tem discussões calorosas quando encontra sua ex-mulher, Sara, interpretada por Solange Badin, e busca em Chico dicas para encontrar novas relações afetivas. É assim que conhece Penélope (Natália Garcez), uma jovem sensual com quem passa a se relacionar. O que ele, ou nenhum outro personagem imagina, é que Penélope também se relaciona com Sara, sua ex-mulher. Forma-se, então, o triângulo amoroso, de relações tanto heterossexuais quanto bissexuais.

Guilherme Piva, como Francisco, em "Paraíso, aqui vou eu"

Com influências declaradamente vindas de Woody Allen, tanto em uma cena onde as personagens femininas conversam em frente a um grande pôster do cineasta, quanto pelas próprias declarações de Walter Daguerre, o longa-metragem privilegia os diálogos em vários planos onde a câmera permanece parada, apenas observando. Enunciados de maneira ágil, os diálogos, infelizmente, deixam a desejar em profundidade e maturidade. Em certo momento, o álter-ego Chico questiona Francisco a respeito da identidade de Che Guevara, e as respostas obtidas são exageradamente infladas e ingênuas, como se um militante do Movimento Estudantil jamais tivesse sido questionado a respeito de seus ídolos.

Um ponto positivo do longa, é a abordagem dada ao triângulo amoroso formado por Francisco, Sara e Penélope. Há uma cena muito interessante onde o trio, mais o álter-ego Chico, conversam abertamente sobre as relações ainda implícitas entre si e, em uma simbologia desse envolvimento mútuo e entrelaçado, se acariciam, se beijam, se misturam. Outro ponto positivo é a direção de arte, que trabalhou de maneira muito criativa com a palheta de cores, opondo, por vezes, em situações propícias, o vermelho e o azul.

Após a exibição, foram distribuídas fichas para uma plateia um tanto quanto reduzida, para o preenchimento do questionário que caracterizaria um teste de audiência. As questões abordavam impressões particulares, como quais cenas mais agradaram e quais desagradaram o público. Abordou os personagens, questionando a verossimilhança da construção dos mesmos e também passou por questões direcionadas a aspectos técnicos, como a montagem e ainda questionava o que o espectador faria se o filme a ele pertencesse.

Respondendo o questionário

Posteriormente, Walter Daguerre, um pouco confuso quanto a funcionalidade de sua presença ali e quanto ao caráter do evento, iniciou uma conversa direta com o público. Daguerre falou sobre a característica de guerrilha que envolve as produções da Cavídeo. De cunho acessível para quem possui uma boa ideia e quer uma oportunidade, a Cavídeo produz diversas obras com orçamento reduzido. Segundo Daguerre, essa caraterística influencia o resultado final do trabalho, pois são necessárias poucas locações, poucos atores, uma equipe reduzida e filmagem em poucos dias. No entanto, a oportunidade que é dada aos realizadores é clara, uma vez que os próprios técnicos que trabalharam em Paraíso, aqui vou eu, também dirigiram outras obras na Cavídeo.

Daguerre falou a respeito de seu trabalho com o teatro, que influenciou seu longa em diversos momentos, fazendo com que ele optasse pela câmera com menos movimentos e maior destaque para o diálogo. Também relatou que aprecia quando as influências do repertório artístico do realizador transparecem visualmente na obra, como em Paraíso, aqui vou eu.

O evento do 5º dia da SUA, embora visivelmente organizado às pressas, teve uma proposta interessante, realizando um teste de audiência com um público especializado na área, com conhecimentos aprofundados na linguagem cinematográfica. Essa especificidade do público demonstra coragem por parte dos realizadores que ali exibiram um filme assumidamente projetado para outro nicho de mercado. A experiência foi bastante proveitosa e fomentadora de um olhar crítico.

*Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e Editora Geral da RUA.

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