Crítica | Perfect Blue (1997), de Kon Satoshi

Por: Murilo Bronzeri

Perfect Blue é um filme de 1997 dirigido por Kon Satoshi. A obra é uma animação japonesa que traz Mima, uma cantora pop decidida a abandonar sua banda para tentar a carreira de atriz. Além de mergulhar no drama da personagem que muda de carreira e tem de lidar com a reação de seus fãs, o filme ainda trabalha brilhantemente com uma mistura entre o real e a fantasia.

A apresentação inicial de Mima, como uma idol, pode nos lembrar muito das atuais cantoras do k-pop. Tanto a personagem quanto as cantoras da realidade são “fabricadas” para construir uma imagem que se assemelhe à “perfeição”. Mima é assim, uma espécie de garota perfeita viva, que apesar de seu lado real, está sempre performando como uma personagem fictícia para seus fãs.

Quando Mima decide ser atriz, embora alguns fãs questionem sua decisão, o que ela faz é trocar uma fantasia por outra: se antes Mima vivia a fantasia de ser perfeita, agora ela deve produzir fantasias a partir de seu corpo, com a atuação. Na verdade, conviver com a fantasia, sendo uma atriz, poderia ser até mais “real” do que a vida anterior de Mima.

O grande trunfo do filme é traduzir em sua forma esse conteúdo do filme. Se há na história de Mima uma confusão entre ilusão e realidade, na forma do filme também há. O público fica confuso por diversas vezes se o que está assistindo é uma encenação de Mima como atriz ou algo que realmente aconteceu na vida dela.

O filme também tem uma representação interessante do fã, feita a partir da personagem Mimania, um homem que, ao mesmo tempo, idolatra Mima, mas que se demonstra um monstro ao se deparar com a “verdadeira” Mima, diferente da ideia que ele idealizou. E apesar do filme ser de 1997, ele foi visionário em já mostrar a internet como elemento essencial para esse processo de idealização de uma artista e criação de fandoms.

Por último, cabe comentar sobre a personagem Rumi, empresária de Mima. Rumi se revela no final como a principal antagonista do filme, uma vez que se descobre que ela é a responsável pelo blog O quarto de Mima — o mesmo que Mimania acompanhava — e depois persegue Mima, tentando matá-la. Rumi é a personificação da inveja, ela é movida por um desejo de ser aquilo que Mima. Isso fica ainda mais claro quando lembramos que ela já havia tentado uma carreira como idol. E essa confusão entre querer ser outro alguém é também bem colocada no filme através da representação de Rumi como uma cópia de Mima, como se houvesse uma clonagem do corpo.

Em suma, pode-se dizer que Perfect Blue é um drama, com elementos surreais, que servem não só para criar uma imagem interessante mas também para transmitir ao espectador os sentimentos da personagem. E, no mais, o filme ainda nos traz dois interessantes antagonistas nas figuras de um fã e da empresária de Mima.

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Referências

PERFECT BLUE. Kon Satoshi. Madhouse. Japão: Rex Entertainment, 1997. (81 min.).

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